O menino que chupou a bala errada
Diz que era um menininho que adorava bala e isto não lhe dava qualquer condição de originalidade, é ou não é? Tudo que é menininho gosta de bala. Mas o garoto desta história era tarado por bala. Ele tinha assim uma espécie de ideia fixa, uma coisa assim... assim, como direi? Ah... creio que arranjei um bom exemplo comparativo: o garoto tinha por bala a mesma loucura que o Sr. Lacerda tem pelo poder.
Vai daí um dia o pai do menininho estava limpando o revólver e, para que a arma não lhe fizesse uma falseta, descarregou-a colocando as balas em cima da mesa. O menininho veio lá do quintal, viu aquilo e perguntou para o pai o que era:
- É bala – respondeu o pai distraído.
Imediatamente o menininho pegou diversas, botou na boca e engoliu, para desespero do pai que não medira as consequências de uma informação que seria razoável a um filho comum, mas não a um filho que não podia ouvir falar em bala que ficava tarado para chupá-las.
Chamou a mãe (do menino), explicou mo que ocorrera e a pobre senhora saiu desvairada para o telefone, para comunicar a desgraça ao médico. Esse tranquilizou a senhora e disse que iria até lá, em seguida.
Era um velho clínico, desses gordos e bonachões, acostumados aos pequenos dramas domésticos. Deu um laxante para o menininho e esclareceu que nada mais iria ocorrer. Mas a mãe estava ainda aflita e insistiu:
- Mas não há perigo de vida, doutor?
- Não – garantiu o médico: - Para o menino não há o menor perigo de via. Para os outros talvez.
- Para os outros? – estranhou a senhora.
- Bem ... – ponderou o doutor: - O que eu quero dizer é que, pelo menos durante o período de recuperação, talvez fosse prudente não apontar o menino para ninguém.
Stanislaw Ponte Preta.
Responda:
1- “O menino que chupou a bala errada” é um texto em prosa, estruturado em parágrafos. Quantos parágrafos têm o texto?
2- “... o garoto tinha por bala a mesma loucura que o Sr. Lacerda tem pelo poder.” Pelo comentário do narrador, você consegue imaginar que tipo de pessoa era o Sr. Lacerda?
3- O texto apresenta um narrador, isto é, aquele que nos conta o acontecimento. O narrador deste texto participa do acontecimento ou é apenas um observador?
4- Transcreva uma passagem do texto em que o narrador conversa diretamente com o leitor.
5- Quantos personagens participam ativamente do acontecimento. Quais são?
6- “Chamou a mãe (do menino).” Por que o narrador explica, entre parênteses, que era a mãe do menino?
7- Por que o menino poderia representar um perigo de vida para os outros?
Enriquecendo o vocabulário
1- “ ... a pobre senhora saiu desvairada para o telefone ...” Dê um sinônimo para desvairada.
2- Podemos encontrar, no texto, duas palavras que podem ser usadas no lugar da palavra médico. Quais são?
3- “Deu um laxante para o menininho.”
Você diria que laxante é:
a) remédio para o sistema nervoso; o mesmo que calmante;
b) remédio para os intestinos; o mesmo que purgante;
c) remédio para a garganta; o mesmo que xarope.
4- “ ... para que a arma não lhe fizesse uma falseta...” O que você entende por “fazer uma falseta”?
5- Dramas domésticos são todos esses pequenos acontecimentos que marcam a vida cotidiana das famílias. Narre resumidamente um pequeno drama doméstico vivido por você ou por alguém de sua casa.
6- Retire o acento agudo da palavra revólver. Você terá, assim, uma outra palavra. Escreva uma frase empregando essa nova palavra obtida.
7- Coloque, agora, acento nas palavras medira e ocorrera. Você terá, assim, outras palavras. Que sentido elas têm? Escreva frases empregando essas novas palavras obtidas.
8- Retire do texto uma palavra que é acentuada pelo mesmo motivo que a palavra história e escreva uma frase com ela.
9- Retire do texto duas palavras que são acentuadas pelo mesmo motivo que a palavra médico e escreva uma frase com cada uma delas.
Trabalhando com as palavras
Vimos no texto a confusão resultante da dupla interpretação de uma mesma palavra (bala), que tem vários significados. Além desse caso, existem também palavras diferentes, mas que tem a mesma grafia: por exemplo, canto (verbo cantar) e canto (esquina). De qualquer forma, uma interpretação equivocada pode resultar em confusão
1- Dê três significados diferentes para a palavra português.
2- “O homem carregou o revólver.” Dê duas interpretações diferentes para o verbo carregar, na frase.
3- Escreva duas frases utilizando a palavra mangueira. Em cada uma delas, dê um significado diferente para mangueira.
Treinando a redação
Você vai contar um acontecimento que foi provocado por alguma confusão na interpretação de uma frase ou palavra.
Como narrador, você pode escolher entre se colocar como observador ou participar ativamente do ocorrido. . procure criar diálogos e pontuá-los corretamente.
O MORCEGO
Era uma vez uma guerra entre pássaros e feras. O morcego estava do lado dos pássaros. Mas na primeira batalha os pássaros foram severamente espancados. Ao constatar que as coisas estavam indo contra ele, o morcego saiu de fininho e se escondeu debaixo de uma tora, e lá ficou até terminar a briga.
Quando as vitoriosas bestas estavam indo para casa, ele se meteu no meio delas. Após terem caminhado por um tempo, as feras notaram sua presença e disseram:
- Espere um minuto. Você não é um dos que lutou contra nós?
O morcego respondeu:
- Oh, não! Eu sou um de vocês. Não pertenço ao grupo dos pássaros. Vocês não estão vendo minhas orelhas e garras? E olhem os meus dentes. Vocês já viram algum pássaro com caninos como os meus? Claro que não. Não, eu faço parte do grupo das bestas.
Elas nada disseram e deixaram o morcego ficar.
Logo depois houve uma nova batalha, e desta vez os pássaros venceram. Assim que percebeu a derrota do seu lado, o morcego saiu de fininho e se escondeu debaixo de uma tora. Quando a batalha terminou e os pássaros foram para casa, o morcego foi com eles.
Ao notarem sua presença, os pássaros disseram:
- Você é nosso inimigo. Nós o vimos lutando contra nós.
E o morcego respondeu:
- Oh, não. Eu pertenço ao seu grupo e não ao outro. Você já viu alguma besta com asas?
Eles nada disseram e o deixaram ficar.
Então o morcego ficou indo de um lado para o outro enquanto durou a guerra.
Mas, finalmente, cansados de lutar, os pássaros e feras decidiram fazer as pazes. Organizaram um conselho para decidir o que fazer com o morcego.
- Você lutou com os pássaros, então vá viver entre eles – exclamaram as bestas.
- Nós não o queremos! – gritaram os pássaros. – Você lutou com as bestas. Vá viver entre elas.
Ficou decidido que eles o excluiriam, e disseram-lhe:
- De agora em diante, você voará sozinho à noite e não terá amigos dentre os que voam ou os que andam.
Por isso agora o morcego se esconde no escuro e vive nas cavernas sem luz. Ele voa como os pássaros, mas nunca pousa no topo das árvores. Ninguém procura saber que tipo de criatura ele é.
(BENNETT, Willian J. O livro das virtudes II – O compasso moral. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995. p. 559-60.)
Estudo do texto
1- O texto lido é uma fábula. Que características apresenta esse tipo de narrativa?
2- “... o morcego saiu de fininho e se escondeu debaixo de uma tora.” Essa atitude revela covardia. Por quê?
3- Essa fábula trata principalmente de uma atitude humana. Qual?
4- A frase final do texto – “Ninguém procura sabe que tipo de criatura ele é.” – é verdadeira? Justifique sua resposta.
5- Indivíduo responsável é aquele que responde pelos seus atos. O morcego da história foi responsável? Explique.
6- Na sua opinião, a lealdade deve existir apenas entre companheiros ou vai além disso? Justifique sua resposta.
7- Que animal é considerado como símbolo da lealdade?
“Quando as vitoriosas bestas estavam indo para casa, ele se meteu no meio delas.” Qual é, nesse texto, o significado do termo destacado?
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